Por Dentro da Noite

30-01-2022 19:40

Por Dentro da Noite

Irei pelas margens do rio inebriada pelo silêncio das árvores. Pelos teus olhos, acerco-me do dia e da noite e rendo-me ao crepúsculo do teu corpo.

Atravessa-nos uma solidão antiga. Uma paisagem sem amanhecer, um escuro persistente.

Por dentro da noite, uma ansiedade que atormenta e desfoca os sonhos.

Um vento que se cala, uma voz que tarda.

E do sonho despertarei no teu sorriso claro, a luz da manhã, a sede dos teus beijos na solidão das águas.

É hora da alvorada no litoral das tuas mãos e querer de ti, o longínquo azul do mar.

Reencontrar nas palavras a memória dos lírios.

E…às vezes é de ti que aceito um diálogo mudo entre mãos, um voo rente ao entardecer como se a noite se apressasse a dançar-nos nos braços e todas as fugas fossem possíveis. Como se todos os versos nos mordessem os lábios e pelo corpo, o canto das notas improvisadas, derramassem todos os poentes… É de ti que nascem os afluentes rubros…todos os sonhos acesos na clareira dos teus braços.

É o teu sorriso, um traço suave sobre o peito. Um secreto grito para que voltes e plantes todas as rosas selvagens na orla da pele… uma correnteza que se acosta levemente onde tudo acontece. Onde nós acontecemos.

Às vezes amamo-nos na luz inquieta dos olhos, na entrega fervente da viagem… mesmo ali, no encantamento das águas, nas eternas antemanhãs.

Também ali, na rubidez das pétalas, morremos de mansinho junto ao litoral dos nossos lábios.

Por dentro da noite, uma penumbra que se espalha e uma saudade de asas… De pássaros entre as mãos.

 

E de repente, reinventamos todos os sonhos rente a um azul inquieto.

 

Rosa Fonseca, in. Antologia XII - Entre o sono e o sonho

Voltar

 

Contactos

Rosa Fonseca
Portugal

© 2014 Todos os direitos reservados.

Crie o seu site grátis Webnode