PARIS SERÁ SEMPRE A ETERNA CIDADE DO AMOR…
09-02-2016 15:09
Trazia de Paris uns olhos negros presos aos seus. Era inevitável deixá-los fugir, mas não sabia como dizer-lhe que a Cidade Luz, poderia, se ela quisesse, ser também o seu lar.
O quarto estava impregnado dela; do perfume, da voz, da roupa, do corpo e das tantas vezes que ali se amaram…
Mas era a sombra deixada nos lençóis brancos e uma saudade a rezar pelas paredes, que o atormentavam. Uma luz peneirada entrava-lhe pela janela mal fechada. Doíam-lhe os olhos, não dormira. Não queria que a luz lhe tocasse nas lembranças. Eram só dele, tal como foram durante a noite e nos últimos dias.
Ainda não conseguia deixá-la fora de si. Sente-a como nas longas tardes pela baixa da cidade, ao entardecer, bem aconchegada ao seu corpo, quando fazia frio; como nas noites quentes quando se enrolavam pelo areal e se consumiam um do outro; ou quando os fins-de-semana eram muito longos, como se fosse, uma semana inteira. Não sabe quando se perdeu dela. Este pensamento percorreu-o e os seus músculos retraem-se numa dor que não conhecia. Por momentos, o calor dela pareceu-lhe roçar-lhe a pele. Não a via há muitos meses, desde que se despediram carinhosamente no aeroporto de Orly.
Sabiam que os encontros entre eles iam ser breves… Afinal, cada um tinha a uma vida. Ela, uma mulher decidida, forte e com planos para o seu futuro. Saída de um casamento de anos, arrastado até ao esgotamento. Queria agora recompor-se e seguir, aprender a viver sozinha. Ia fazê-lo longe do seu país. Em Paris, a cidade que a vira crescer.
Ele, mais velho, divorciado há muitos anos, nunca se segurara numa relação. Gostava das mulheres com quem saía, mas não ocupavam a sua vida. Chegara ainda a pensar uma ou outra vez, criar laços mais fundos. Adiava sempre. A sua vida profissional absorvia-o e não tinha tempo para compromissos emocionais.
Só agora que começava a sentir uma saudade no corpo e lhe parava no peito, abrasando-o, que ela lhe ocupava os dias e as horas, percebeu que a tinha deixado entrar na sua vida e, sem dar por isso, também a estava a deixar sair...
Ela vivia em todos os cantos da sua memória, ela corria-lhe nas veias. Tinha sido feliz.
Relia mais uma vez a mensagem deixada no telemóvel há uns dias. Deixou que o Sol entrasse e, num ímpeto, estava no meio do quarto à procura dela…Na rua, em todos os rostos, era o dela que via, todos os gestos, todos os aromas. Um táxi a caminho do aeroporto. Queria lá estar quando ela chegasse. Ser o seu primeiro olhar. O avião chegava de Paris, a cidade onde fora feliz com ela, onde as margens do Sena testemunharam o amor …
De entre os passageiros que começavam a sair, um demarca-se pelo rosto moreno, doce de sorriso rasgado.
Aos seus olhos, uma chuva miudinha, salpica-lhe o rosto…Finalmente, ele percebera que sabia muito pouco de si, das suas emoções…Desconhecia-se, mas, agora, que a tinha ali, só queria afundar-se no mar dos seus olhos e não sair dela. Queria trazê-la de volta ao lugar que sempre lhe pertencera…
Em breve, voltariam a Paris, à cidade que despertou neles o amor, à cidade do Amor…
Rosa Fonseca
Editado no Jornal, Diário de Aveiro