In, ABRAÇA-ME POR DENTRO
01-02-2022 21:46
Era verão
Fazia calor e caminhávamos lado a lado, conversávamos sobre a noite anterior. O teu corpo muito junto ao meu e tudo aquilo que ele provocava em mim. Um constante desvario.
Era verão.
Amor, diz-me se ainda és o meu refúgio, dos ventos frescos, das madrugadas inteiras.
Diz-me também que os amanheceres trazem os primeiros raios de sol sobre o rosto e os restos da noite ainda pairam sobre a cama. Dos dias semeados à beira-mar, quando trazíamos as conchas brancas das marés. Se os nossos passos, jurados, se desenham na areia e ainda sentimos o mesmo arrepio a perpassar a pele.
E, à tardinha, com o descanso dos pássaros, a tua boca caía sobre a minha, a tua mão sobre os meus cabelos – as nossas mãos, sempre a acender afagos, numa geografia própria.
Agora, ao meu lado, a tua voz – um rio a beijar-me a nuca, perdia-me e reencontrava-me como se em mim tudo fosse água e céu.
Amor, diz-me que sentes, ainda, todo o tremor confuso que recolhíamos de nós, quando esperávamos que as sombras da noite não tardassem e nos cobrissem ali mesmo, nas ondas excitadas e, em seguida, saciávamos o sal do corpo.
Depois, voltávamos à casa coberta de folhas de palmeira, onde os encontros longos nos faziam (re)nascer juntos.
Era sempre assim, amor, no momento da fusão branca dos nossos corpos. Rumávamos com as gaivotas e tocávamos exuberantes a alvorada.
Ainda me encontro nos teus olhos quando me dizes:
– Amor, és o resguardo dos meus ventos fortes.